De forma geral, a gordura corporal é “demonizada”. Mas nem toda gordura é ruim. Possuímos dois tipos principais de gordura:a marrom e a branca. Duas equipes de pesquisadores sobre o assunto têm enriquecido a nossa compreensão sobre o tecido adiposo. A primeira equipe descobriu o interruptor genético que desencadeia o desenvolvimento de gordura marrom, ou seja, como o organismo ativa e desativa o desenvolvimento da gordura marrom [1]. Já o segundo grupo descobriu como o corpo pode recrutar gordura branca e transformá-lo em marrom [2] .
Mas por que nós queremos mudar a gordura branca para a marrom?
A gordura branca tem papel de armazenar a energia como grandes gotas de gordura, enquanto a gordura marrom possui gotículas menores e é especializada em gastar gordura, ou seja, queimá-las, produzindo calor. Células de gordura marrom são embaladas como potenciais de energia nas chamadas mitocôndrias que contêm ferro, o que lhes atribui a cor marrom quando vistas em microscópio. Os bebês nascem com grandes quantidades de gordura marrom (cerca de 5% da massa corporal total) na parte superior da coluna e nos ombros para mantê-los aquecidos. Pensava-se que esse tipo de gordura desaparecia na idade adulta, mas na verdade, mantemos pequenas reservas em nossos ombros e pescoço mesmo quando adultos.
Em ratos, a gordura marrom faz algo notável: ela queima mais calorias quando eles são superalimentados, protegendo-os contra a obesidade. Imagina só, você não gostaria de comer um prato de batatas fritas e ao invés de ganhar gordura ou ter que passar horas na academia seu próprio organismo se encarregaria de manter seu corpo magro? Pois é… só nos RATOS. Além disso, os ratos geneticamente predispostos a ter quantidades de gordura marrom extras são realmente mais magros e saudáveis. Nos seres humanos, existem evidências que quanto mais gordura marrom, menor a massa corporal.
Então, como podemos aumentar nossa produção de gordura marrom?
A equipe liderada pela Universidade da Pensilvânia descobriu a chave para a criação de uma célula-marrom, uma proteína chamada gordura celular precoce fator B-2 (Ebf2). Comparando-se os genes ativos em células de gordura marrom e branca, eles descobriram que a Ebf2 está presente em maior quantidade na gordura marrom. Essa proteína parece marcar quais genes serão posteriormente ligados para transformar certos tipos de células precursoras em gordura marrom.
A segunda equipe, liderada pelo Joslin, do Diabetes Center da Harvard, observou que ratos têm dois tipos de gordura marrom: constitutiva de gordura marrom, que eles têm desde o nascimento, e gordura marrom “recrutável”, espalhados ao longo dos músculos e na gordura branca. O frio estimula a transformação da gordura marrom “recrutável”. A falta de gordura marrom, aparentemente, envia um sinal através do cérebro para as células de gordura recrutáveis, dizendo-lhes para fazer a troca e se transformar em gordura marrom. Os camundongos então, regulam a temperatura corporal e protegem-se da obesidade.
Nos seres humanos, o excesso de gordura branca abdominal promove doenças cardíacas, diabetes e muitas outras doenças metabólicas. Parece interessante a possibilidade de estimular a gordura branca para mudar para a marrom e assim aumentar o gasto energético por meio da termogênese. Determinar quais genes controlam o desenvolvimento da gordura branca e marrom pode ser o primeiro passo para o desenvolvimento de tratamentos para diabetes e obesidade. Mas até isso acontecer, a melhor maneira de controlar a gordura corporal é fazendo exercícios físicos e mantendo uma alimentação saudável.
Referências Bibliográficas
[1] EBF2 determines and maintains brown adipocyte identity. Rajakumari S, Wu J, Ishibashi J, Lim HW, Giang AH, Won KJ, Reed RR, Seale P. Cell Metab. 2013 Mar 12
[2] Brown-fat paucity due to impaired BMP signalling induces compensatory browning of white fat.Schulz TJ, Huang P, Huang TL, Xue R, McDougall LE, Townsend KL, Cypess AM, Mishina Y, Gussoni E, Tseng YH. Nature. 2013 Mar 13
Texto original em inglês: http://directorsblog.nih.gov/2013/03/26/brown-fat-white-fat-good-fat-bad-fat/